terça-feira, 15 de março de 2011

Contrariando a Natureza

A tendência é que os pais morram primeiro, os filhos irão depois.

A Natureza é polêmica e nos reserva momentos misteriosos, inexplicáveis e que se acoplam nesse mundo como se fosse seu.

A morte ao contrário do que muitos pensam ser efetivamente definida, ela não o é. Chega sorrateiramente, perceptível para alguns, porém misteriosa e indefinida para muitos. Morte morrida afirmam ser a melhor, se é que existe uma boa morte. Mas se as pessoas sabem que morrerão por que chorar quando alguém se vai?

Sentimentos, subjetividade, aliados a dor capitalista da perda misturam-se na ânsia da lembrança aguçada pela moça bonita, um sorriso, uma foto antiga, as brincadeiras do bebê. Não admitimos perdas.

Incompreensível é saber que um filho morreu antes de seus genitores. Caminhamos em desacordo com uma seqüência lógica, previsível (?), racional. Drummond perdeu sua única filha e uma semana depois faleceu. Lembro-me de minha avó materna em prantos quando perdeu o seu primeiro filho. Um garoto forte, sadio, que aos seus dezenove anos teve sua morte decretada por um afogamento. Já com o segundo a dor não foi menor, mais um filho perdido. Alguns anos depois foi vítima de um câncer e aos 79 anos faleceu devido a essa trágica e impiedosa doença. Mas o desgosto foi seu mal. Os pais não devem perder os seus filhos, estes sim devem fazer o enterro dos seus genitores. Não menos que minha avó materna, minha avó, mãe do meu pai, perdeu onze filhos. Alguns não chegaram a nascer devido ao aborto espontâneo, mas não eram menos filhos que os outros; os que nasceram foram sepultados, velados e chorados. Quanta tristeza...

Eric Clapton chorou a morte de seu filho cantando e compondo uma melodia fúnebre ao seu pequeno, mas não sei se essa é a real música?! Tanto sofrimento, tanta exaustão, morre-se a todo dia. Desilude-se a cada momento. Morremos a cada segundo. Chorarão por mim quando chegar o dia do meu julgamento final? Naquele momento apenas, pois depois estarão montados em seus carros, realizando festas, preparando a comida para mais um churrasco. E o carnaval não se acabará por causa de mais essa morte, as mulheres continuarão a desfilarem com seus silicones enormes, que foram guardados com a ida até o necrotério. As escolas mandarão coroas de flores, mas nenhum aluno será dispensado, pois são duzentos dias letivos e perder um desses momentos seria uma calamidade para o currículo do futuro médico. Eles só perdem aulas ao longo do carnaval, festas típicas, feriados e suas emendas, não menos do que isso. Quanta hipocrisia! As pessoas estão torcendo para que você se vá e sobre mais espaço para elas por aqui. A disputa é acirrada, os elementos com que seus inimigos lutam são desleais. É um absurdo, mas é verídico. Esta não é a Lei da Natureza, ela se faz através dos Homens.

Brada um no meio da multidão: vamos beber, comer, usar drogas, trair nossas esposas e maridos, pois a vida é breve. Mas assim queres aproveitar a vida? Na verdade quer encurtá-la, partir em busca da morte. Não quero nada, apenas refletir sobre esse problema que a cada dia vem intrigando a vida aqui embaixo.

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