quarta-feira, 29 de junho de 2011

Ler: uma paixão!

Lembro-me das primeiras revistas surgidas entre os meus brinquedos, páginas inebriantes, elemento que faria qualquer criança rasgá-los ou rabiscá-los. Mas minha doce paixão alimentava o seu consumo, envolvia-se entre as figuras, narrava a história, mesmo não sabendo ler, definitivamente nascia ali, em meio aquele momento solene, um caso de amor. Verdadeiro, distinto destes que aí se exibem nas telas globais, cujo amor é rifado. Bingo! Hoje é este, amanhã aquele, semelhança atingida no poema de Drummond, “Quadrilha”.

Na escola adorava as composições que deveriam ser realizadas em meio aos cartazes imensos estendidos na lousa, fixados em um varal com pregadores destes que aí as donas do lar são acostumadas a colocarem as roupas depois de lavadas. Dona Vera Belato, Dona Lígia, Dona Irinha, Dona Izildinha foram sensacionais, muito me estimularam e assim fizeram com os meus colegas. A escola era o Aníbal do Prado e Silva, localizada lá no Bairro Talavasso, um espetáculo que se completava com a experiência da Dona Leide, Dona Elenir, tudo sob a batuta orquestrada da Dona Darci Ferrari. Não me recordo, mas acho que a Dona Jô já exercia a função de vice- Diretora. Mais tarde tive o privilégio de dar aulas naquele estabelecimento de ensino, agora regido pela professora Jô. Momento ao final da década de 90, que me causa nostalgia, emoção. A escola não havia chegado ao caos.

Hoje quando entro em uma sala de aula vejo que há alunos que nunca leram um livro até o seu final ou se já leram é fruto da cobrança descabida que o ensino proporciona. Jamais terão o sabor de ler por prazer, pois em sua mente foi dado o sinal de que a leitura é um momento de decoreba, algumas datas, nomes de personagens, o espaço, o narrador e pronto. Elementos pertinentes àqueles que estudam a estrutura da obra. Jamais será lhe conferido a essência de uma obra literária: o manuseio, o cheiro, o ranger do papel ao virar suas páginas, as cores ofuscadas, enfim a leitura como deve ser realizada.

Tento a todo instante sanar essa cicatriz, que somente com uma cirurgia plástica digna de Doctor Rey e não mais por Ivo Pitanguy, mesmo este pertencente à ABL, serei capaz de aliviar essa mancha enraizada em nossa educação: ler um livro por obrigação. Temos que ler os clássicos sim, porém façamos com que leiam as obras que mais admiram, porém este trabalho deve ser realizado em casa. Sei que há diversos aspectos que inibem esta prática, sendo o social o principal, mas algo necessita ser realizado. Vamos nós, como escola, despertar este hábito em nossos discentes. Façamos com que o livro seja a escova de dentes que ele utiliza todos os dias ou o pente usado para escovação dos cabelos. Que surja um deputado capaz de tornar o livro um dos itens da cesta básica ou mesmo doe o vale-livros, vale-cultura, ou qualquer outro vale que possa ser gasto com livros.

Dói-me quando meu colega de profissão indica um livro para seu discípulo sem ao menos ter folheado a obra referida. E são vários. Estamos vivendo um período de perda de valores e os profissionais se esfacelam com tamanha ignorância. Tudo bem que o médico não necessita tomar o remédio para sugeri-lo ao seu paciente, mas um docente necessita sim conhecer a obra indicada. Argumentos como eles não lêem são aos montes, mas se alguém não começar a incentivar onde pararemos?

Dei aulas para uma turma lá da escola Carmela Morano Previdelli em que seus alunos iam para escola no finalzinho da tarde, depois de terem tido seis aulas pelo período matutino, e ficavam até o início do período noturno (eram duas aulas de cinqüenta minutos) e lá queriam sempre mais, ansiavam por informações, além das que já tinham, pois o futuro estava ali, diante deles, necessitavam remar contra a maré. Não eram diferentes dos demais, apenas determinados. Eles continuam lá, numa escola em que o acervo bibliográfico é enorme e muitos discentes procuram sua utilização. A coordenação é presente, a direção atuante e uma equipe unida, algo raro de se efetivar no meio docente. Atitudes como esta pude observar em escolas pelas quais lecionei: 9 de Julho, Aníbal e Prof. Francisco Silveira Coelho, porém a necessidade é contagiar aos demais discentes.

Esse amor que senti e sinto pela leitura devo muito a essas professoras que citei na introdução desta análise do cotidiano, porém só seremos efetivos se a tríade: escola, família e discentes atuarem em conjunto. Insisto: muito do que está aí é sinal da desestruturação familiar. Caso a família não volte a ser como dantes ou mesmo se estruture em valores morais, religiosos etc. não sairemos deste presente, de grego, a nós conferido. O pacote continha uma bomba e esta ainda não explodiu. Leiamos mais, incentivemos nossos discentes a lerem!





Um comentário:

;) disse...

Olá, tudo bom?
Gostei muito daqui.
Que tal dar uma passada lá no meu blog?
Beijos.
www.booksandsoul.blogspot.com