quarta-feira, 20 de julho de 2011

Num velório aquela paixão

Lembro-me quando encontrei com ele num dos espaços culturais que antes havia por aqui, demonstrava satisfação, êxtase, empolgação. Enfim parecia um homem feliz.
Ela havia perdido o seu esposo num acidente automobilístico, era um piloto de kart, corria aqui pela região, mas fez deste esporte seu meio de vida, seu ganha pão. Numa curva brusca capotou, bateu à cabeça, o cérebro se deslocou e pronto. Tristeza naquela casa alegre, febril, ensolarada. O sorriso desceu, o barulho emudeceu, a família parecia ter acabado. Depois de um tempo ela seguiu sua vida de publicitária numa agência pequena aqui da região, as filhas, duas belas moçoilas, voltaram à Capital Paulista. Algumas semanas curtindo o luto marital decidiu sair com as amigas, tomar um chope, apreciar uma roda de samba, que por sinal vem fazendo o maior sucesso em nossa cidade, não conheceu ninguém, e, também, não era a sua intenção encontrar um homem naqueles momentos iniciais da perda do seu esposo, o cadáver não havia esfriado.
Este meu amigo que a conheceu e hoje está casado, isso mesmo, perante a justiça divina e a dos homens, esbanja felicidade quando carrega nas palavras seu nome, exala a doçura de um homem apaixonado, agrega a este início de relacionamento uma história inusitada, diferente dos amores que surgem por aí. Num dos velórios que o povo do interior tem a mania de freqüentar, mesmo que o defunto não seja conhecido, iniciou o seu romance com ela. Trocaram alguns olhares, mesmo não se conhecendo, passaram a se olhar mais e mais em meio ao velório do desconhecido, até que um amigo incomum de ambos os apresentou. Paixão num primeiro olhar, circunstância inusitada. Saíram dali e foram ao supermercado, pois jantariam em suas residências e a compra eram os mesmos que realizavam. Ela ensinou-o a comprar o mais barato, ele detalhou suas preferências. Decidiram então jantarem juntos na casa dela. Um bom vinho para acompanhar e à noite passou. Trocaram alguns beijos, despediram-se pela manhã. Ele seguiu para o trabalho, que era em sua casa; ela permaneceu deitada naquela cama que parecia eterna.
O cheiro das velas queimando enquanto eles conversavam parecia pulular em seus corpos, anunciando que só se separariam após a morte.

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