quarta-feira, 20 de julho de 2011

Talvez a Metamorfose de Franz Kafka

O prédio encontra-se em silêncio, parece que já é hora de dormir. Final de domingo, início da semana, muitos trabalham, eu cá, passando minhas férias sozinho, pois quem está de férias, realmente, é minha esposa e minha filhinha Beatriz.
O galo canta já, não é manhã ainda, pois o relógio acena para as 24 horas, outro dia. Quando o animal de penas emite seu canto, principalmente durante a noite, os antigos acreditavam no mau agouro, prefiro certificar-me da sua potência vocal. Lá também o cachorro late, pessoas passam na rua conversando alegres, o vizinho do apartamento de número seis chega, parece-me que foram vários dias de viagem. No apartamento ao lado a vizinha desce com seus tamancos, talvez para beber água, pois a madrugada passada foi de muita festa (certa está ela, aproveite bem a vida!). Rabisco, faço, refaço, leio, paro, penso em dormir, mas o sono que estava aqui me incomodando se foi.Sigo, procurando as palavras que sempre me acompanharam dando vazão aos meus pensamentos, alegres, outrora tristes, mas que não desanimam, marcham, incansavelmente, ardentes, prudentes, inconseqüentes, pensamentos estes que interferem na minha produção objetiva. Sempre desejei realizar textos dissertativos. Faço-os, mas a imaginação almeja navegar. Poesias que suspiram, aumentam a libido, poemas que nenhum poeta traz mais. Estou emocionado, rabisco, faço, traço o meu percurso. As contas que outrora se avolumavam em meu cérebro já não fazem mais parte deste momentâneo cotidiano. Que bom navegar por este mar de ilusões...
Na parede a foto que tanto me inspira, um casamento, uma filha, quantos momentos felizes se vive nesta imensidão de dias e às vezes parecemos não dar valor, deixamos de projetar o peso de nossas decisões, analisamos com frieza os casos mais difíceis e sensíveis, falta poesia, há ausência de paixão.
As palavras encantam-me, chamam-me atenção para o dicionário, desconsidero-o. Ele é metódico, sisudo, objetivo. Prefiro a palavra livre, sem restrições, aberta à imaginação. Talvez seja por isso que detesto seres humanos extremamente racionais, avessos ao diálogo com as emoções. Desejaria passar apenas um dia agindo assim, quem sabe as pessoas dariam mais valor ao homem quem sou. Queria ser mais rígido, ríspido, eficaz em minhas decisões. Desagradaria várias pessoas, não sei se seria feliz, mas acredito que esses seres humanos não me fariam mais de bobo.
Posso não ser a personagem da obra “Metamorfose”, de Franz Kafka, amado, de repente torna-se o ser mais esdrúxulo, repugnante, uma mosca com sua casca esponjosa. Somos moldados aos olhos dos seres humanos. Mas quem estas por trás daquele inseto?
O coração de alguns prefere não bater...

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