terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A morte e a importância da educação







“É preciso amar as pessoas com se não houvesse amanhã...” (Renato Russo)






Fomos articulados socialmente a falarmos pouco ou quase nada sobre a morte. Palavra forte e de sentido negativo. Ir a um enterro e velar ao morto é um martírio, uma morte para aquele que se despeja a realizar tal programa. Quantos na verdade se esquivam deste gosto fúnebre, porém manda a sociedade que seja necessário tal ritual, uma norma, conduta a ser seguida. É difícil encontrarmos outras pessoas que sucedem aos políticos partidários no topo da lista de visitas aos funerais. Faz parte...

As religiões nos confortam diante do nosso encontro com a morte, porém individualmente cada um contempla-a de uma forma, mesmo o mais religiosos dos seres. Ela nos incomoda, manipula diversos questionamentos, insere a dúvida. Sei que um dia vou morrer...

Na televisão, principalmente nos telejornais acostumados com a violência, ela se tornou banalidade e com isso nossa sociedade habituou-se a encará-la como elo entre a entrega do mal para a reedificação do ser. Hoje matam um ali, depois outro acolá e tudo bem. Mas o que podemos fazer contra tais atitudes? Questionarmos, posicionarmos contra através da escrita, fala etc. e não deixar que se prolifere tamanha ignorância. Permanecemos estáticos, estamos parados, imobilizados. Devemos sim lutar contra a morte, mesmo sabendo que ela é inevitável, no entanto precisamos combater aqueles que a provocam, insultam-na, antecipam-na.

É difícil crer na perda de um ente querido, sofremos, somos sufocados, perdemos as forças, o tempo chega e nada é mudado, apenas os anos se passaram, mas para os garotos e garotas, a quem tenho o prazer de dar aulas, as mortes são números, quantidade. É mais um corpo estendido lá naquele chão batido, lavado com o sangue que dignifica o assassino, que o capacita para a pós-graduação. São ensinados pela vida, desde os primeiros anos dela, que a morte acontecerá e pra eles de maneira mais breve, pelo cano do crime, da violência, do desentendimento. A morte ali é matar mais um para nascer mais dois ou três, é eliminar mais uma boca que comeria a comida que não daria para a janta, é eliminar o que ofuscava o traficante diante da condução de seu povo, é seguir a cadeia alimentar por eles estipulada. A morte é apenas um substantivo, indefinido, uma morte qualquer. Vela-se o corpo ali, e amanhã a vida é outra, estamos prontos para a lida – aqui é “olho por olho, dente por dente”. Difícil de acreditar...

Quando aquele garoto de oito anos chegou até mim e disse: “Meu pai foi assassinado ontem!”, desesperado fiquei. Porém o indaguei: “E o que fazes no colégio?”. “A vida é para ser vivida, ‘sor’. Morto é aquele que morreu”. Depois disso passei a compreender mais e mais a importância da educação e a necessidade de estar vivo e sendo conduzido a levar a Língua Portuguesa e seu mundo àquelas pessoas. Obrigado, meu Deus!

Nenhum comentário: