domingo, 23 de setembro de 2012

A Educação Não-Formal em Fé e Alegria: o educador social, sua relação em equipe e com os educandos em busca da humanização no trabalho


“Somos mestres preparados e dispostos a liderar as mudanças necessárias, que se esforçam cada dia em ser melhores, fazer melhor o que fazem, e deste modo, melhorar a educação e a sociedade. Educadores de humanidade, não de uma matéria ou programa, mas de um projeto, de valores, de uma forma de ser e de sentir. Habitados pela ilusão, a esperança e responsabilidade”. (Joaquim Barrero)

            A educação nacional vive um período de turbulência, momento em que a repetência e a progressão continuada surgem como elementos salvadores de uma situação caótica, porém duas teorias que ao longo de décadas demonstraram a sua ineficiência.
            Na educação não-formal vivemos um período de busca de elementos que possam aprimorar a nossa prática, embasarem as nossas ações e propor novas e eficientes teorias. Mas sofremos com as agruras de um governo ineficiente, de uma sociedade injusta e de profissionais, que ainda enveredam para a área educacional em busca do capital. Prática constante que abala as estruturas qualitativas educacionais e nada contribuem para o progresso dos educandos, pois educação não-formal se faz com amor, com dedicação, humildade e prazer, sem esses elementos fica difícil lidar com o ser humano, provindos das camadas socialmente injustiçadas, discriminados por uma população acostumada ao desprezo e ao desvalor daqueles que se resumem ao distanciamento dos centros urbanos, das grandes empresas, dos centros comerciais, das oportunidades de cultura e lazer que alimentam uma pequena parcela de nossa população.
            E a saída de nossos governantes? Passar a responsabilidade as ONGs, às fundações e associações através de políticas monetárias de incentivo às suas atividades e apenas isso. Caberá as entidades buscar alternativas, recursos extras e profissionais capacitados para alavancarem o trabalho na educação não-formal.
            E aonde se quer chegar com este texto? Passar ao educador social que devemos sim rever as nossas práticas a cada planejamento, a cada atividade, a cada frase citada, a cada diálogo proposto e que não há como se restringir, isolar-se, mas sim procurar ajuda, amparar-se em profissionais teóricos (através da leitura e a busca pelas teorias) e práticos (procurar aos profissionais posicionados nos centros educacionais para dar suporte aos educadores) para dessa forma atingir a satisfação pessoal e, também, a satisfação dos educandos e do órgão ao qual dedico meu conhecimento. Para que essa tríade se satisfaça é necessário que a equipe esteja bem, que o diálogo entre os profissionais seja mantido e que a teoria dê lugar à prática a fim de que possamos obter o “acontecer”. Só assim conseguiremos caminhar, procurar alcançar os nossos objetivos, despertar o mundo que existe em cada educando.
            Em Fé e Alegria não poderia ser diferente, amparando-se na teoria freireana e inaciana, cujo diálogo faz-se como elemento vital no progresso educacional, não cabe a uma equipe pecar pela falta de diálogo ou mesmo errar pela omissão ou suposição. Equipe não tem gênero, não tem educadores e subordinados, não há mais e nem menos, apenas profissionais de áreas diversificadas que comungam em prol do progresso e autonomia do ser humano. Podem sim ter opiniões distintas, formarem-se em teorias e religiões diferentes, mas jamais esquecerem-se que o diálogo faz-se sim importante quando buscamos o mesmo objetivo. Posso sim ter mais afinidade com Fulano ou Sicrano, porém jamais me esquivar de debater, dialogar com os meus companheiros qual a melhor alternativa para se trabalhar com os educandos. Práticas como estas em que os companheiros de trabalho se relacionam são cada vez mais enfatizadas e procuradas pelos grandes estabelecimentos educacionais, pois a tendência do ser humano é cada vez mais se isolar, ignorar ao seu semelhante, abster-se do diálogo. Hoje tu sentas no ônibus ao lado de uma pessoa e não troca uma palavra com ela, pois o seu fone de ouvido amparado num celular ou em qualquer outro mecanismo de tecnologia se torna mais importante que o ser humano ao seu lado.
            Outro fator descabido e desnecessário numa relação educacional em formação é a falsa interpretação, ou seja, a “suposição achista”, aquela que sufoca e desestrutura milhões de equipes pelo mundo. Nem sempre o que tu achas é a verdade, por isso quando se emitir uma opinião sobre alguém, pense em ti, na opinião que outros possuem sobre você. Não desfaça um trabalho de décadas por pura e simples fofoca, não trabalhe numa instituição achando que ela é sua, é importante sim conservarmos o ambiente onde trabalhamos, demonstrando isso aos meus educandos, mas jamais propor “uma educação pobre para os pobres”, como disse Padre Vélaz. Amar ao próximo como a ti mesmo não é um princípio que se resume apenas aos estudiosos da religião ou religiosos, mas a todos aqueles que almejam se dedicarem ao ser humano, à área educacional.
            Precisamos transformar uma situação, recriar a realidade, confabular pelo mesmo objetivo e a nossa pedagogia não deve se restringir a uma mera metodologia, deve sim inspirar a visão sobre a pessoa humana, seus anseios, suas perspectivas e precisamos motivá-los, mostrar-lhes o (ao) mundo com suas oportunidades e dificuldades, por isso o limite faz-se necessário numa pedagogia que busca fazer de seu educando um protagonista. E a nossa intenção através da pedagogia inaciana e freireana é sim informá-los, porém o desenvolvimento global, o conhecimento de mundo são mais importantes, elementos de transformação, que proporcionam o domínio de si. Com diz o Pe. Arrupe: “formamos homens e mulheres para os outros”, ou seja, uma pessoa amável, comprometida com a justiça, aberta ao progresso, consciente. De que adianta um teórico intelectual, mas que ao mesmo tempo é imaturo emocional e moralmente. Cabe a nós educadores sermos capazes e dispostos a orientarem aos educandos na busca por essa prática. Mostrar-lhes que o opressor se faz presente nos dias atuais, instalado em nossa sociedade através de empresas, faraônicas construções, Redes de TV, jornais, revistas, livros didáticos, traficantes etc., porém ao oprimido não cabe apenas a posição de inferior, pelo contrário, é possível sim transformarmos nossa sociedade e mudarmos a nossa situação, através de atitudes centradas no combate a injustiça, na busca de conhecimento, da elaboração de alternativas e na busca do progresso. Esses homens e mulheres que preparamos são pessoas que deverão acolher, amar, promover, comprometidos com a liberdade e dignidade de todos os povos, agindo em cooperação com outros, empenhados em modificar a sociedade e suas estruturas. Ao educador de Fé e Alegria cabe ser perseverante, dedicado ao amor e cuidado com os outros, defensores eficazes da justiça, do amor e da paz. Devemos ajudar o educando a oferecer o que eles são e não aquilo que tem.
            O Educador de Fé e Alegria se indigna com situações que reforçam o racismo, a pobreza, a violência, a miséria, a intolerância, a pornografia, o preconceito (como julgamento precoce), opiniões infundadas, a fofoca, o descaso.
            A Pedagogia da Educação Popular de Fé e Alegria se baseia na formação integral da pessoa:
            a) A dimensão psícoafetiva com uma pedagogia do amor e da alegria;
            b) A dimensão espiritual com uma pedagogia evangelizadora;
            c) A dimensão corporal, com uma pedagogia da saúde e da valorização e pelo corpo;
            d) A dimensão sociopolítica com uma pedagogia do diálogo e da participação;
            e) A dimensão intelectual com uma pedagogia da pergunta e da pesquisa;
            f) A dimensão produtiva com uma pedagogia do trabalho e do desenvolvimento sustentável;
            g) A dimensão estética com uma pedagogia da expressão e da criatividade;
            h) A dimensão cultural com uma pedagogia que desperte a multiculturalidade;
            i) A dimensão ética com uma pedagogia dos valores;
            j) A dimensão histórica com uma pedagogia da identidade e da esperança.
           
Portanto, ao Educador de Fé e Alegria a liberdade teórica e prática são sim fundamentais desde que se pautem em suas dimensões, alicerces importantíssimos nesta caminhada. Com afirmou Padre Vélaz: “Fé e Alegria começa onde termina o asfalto”.
           

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