segunda-feira, 4 de março de 2013

A busca pelo cozinheiro


O cozinheiro me indagou: “o que temos para o cardápio hoje?”. Confesso que não fiquei nenhum pouco feliz. Sei que era o dono do restaurante, mas sempre confiei no paladar aguçado e nas mãos mágicas dos meus cozinheiros. Sempre os valorizei, abria o meu coração para ouvi-los e valorizava a experiência.
            Esperava esforço, dedicação, amor àquilo que se fazia. Cozinhar é amor. Dar vida a alimentos que podem encantar apenas pela beleza. Colocar o sal, minimizar na pimenta, botar aquele tempero que só o cozinheiro conhece... apenas para aqueles que se deixam levar pela paixão.
            E não pensem vocês que me furtei de possibilitar o melhor a eles. Quantos cursos financiamos, salários acima das cifras do mercado, além da liberdade de horário e do cardápio. Sempre fomos um exemplo de restaurante. Mas com essas mudanças que o mercado nos prega, logo tivemos que refazer a equipe e naquela ânsia para contratar um funcionário que pudesse suprimir nossa necessidade fomos logo contratando as pressas. O resultado foi um cozinheiro que parecia conhecer a cozinha, no entanto não sentia amor por aquilo que realizava. Confesso que no momento que o entrevistamos fomos logo nos encantando por sua capacidade em aprender e do carinho que demonstrava por lidar com pessoas, porém durante este tempo em que se encontra aqui parece um robô, ou seja, só executa os comandos que seus chefes lhes ordenam. Não opina, profere apenas o sim e o não. Nada de novas idéias, variedade nos pratos, algo diferente que seja capaz de encantar aos apreciadores da sua comida. Também descobri que ele não pesquisa, não gosta de ler, é tradicional, apenas o trivial e mesmo assim sem o amor. Não tem espírito de equipe, trabalha isoladamente, e rejeita a posição dos colegas trabalhadores. Dessa maneira a equipe não anda, não evolui, não dialoga, como saber o que cada um tem para oferecer? A quem posso recorrer quando o feijão queimar? O sal do arroz ultrapassou aos limites do paladar? Ou mesmo tostar àquele bife que seria malpassado? Ele vai logo ao dono do restaurante. Dessa forma perde sua credibilidade, irrita aos clientes do restaurante, pois não solucionou ao problema; além disso a todo momento recorre a interferência do dono que não é um cozinheiro. Será que os papéis estão invertidos? Onde está o erro? Na falta de amor? Está inserido numa série de fatores e o principal deles é realizar o seu trabalho com criatividade, estar disposto à pesquisa, realizar amizades e, principalmente, estar disposto a sentir o olfato dos humanos, a perceber o que as pessoas desejam, o que anseiam, não ter preguiça de buscar o novo e se esforçar a cada dia, pois um é diferente do outro.
            Já tive cozinheiros excelentes, mas hoje aguardo aquele que alimente a alma dos meus clientes.

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