O cozinheiro me indagou: “o que temos para o cardápio hoje?”.
Confesso que não fiquei nenhum pouco feliz. Sei que era o dono do restaurante,
mas sempre confiei no paladar aguçado e nas mãos mágicas dos meus cozinheiros.
Sempre os valorizei, abria o meu coração para ouvi-los e valorizava a
experiência.
Esperava
esforço, dedicação, amor àquilo que se fazia. Cozinhar é amor. Dar vida a
alimentos que podem encantar apenas pela beleza. Colocar o sal, minimizar na
pimenta, botar aquele tempero que só o cozinheiro conhece... apenas para
aqueles que se deixam levar pela paixão.
E
não pensem vocês que me furtei de possibilitar o melhor a eles. Quantos cursos
financiamos, salários acima das cifras do mercado, além da liberdade de horário
e do cardápio. Sempre fomos um exemplo de restaurante. Mas com essas mudanças
que o mercado nos prega, logo tivemos que refazer a equipe e naquela ânsia para
contratar um funcionário que pudesse suprimir nossa necessidade fomos logo
contratando as pressas. O resultado foi um cozinheiro que parecia conhecer a
cozinha, no entanto não sentia amor por aquilo que realizava. Confesso que no
momento que o entrevistamos fomos logo nos encantando por sua capacidade em
aprender e do carinho que demonstrava por lidar com pessoas, porém durante este
tempo em que se encontra aqui parece um robô, ou seja, só executa os comandos
que seus chefes lhes ordenam. Não opina, profere apenas o sim e o não. Nada de
novas idéias, variedade nos pratos, algo diferente que seja capaz de encantar
aos apreciadores da sua comida. Também descobri que ele não pesquisa, não gosta
de ler, é tradicional, apenas o trivial e mesmo assim sem o amor. Não tem
espírito de equipe, trabalha isoladamente, e rejeita a posição dos colegas
trabalhadores. Dessa maneira a equipe não anda, não evolui, não dialoga, como
saber o que cada um tem para oferecer? A quem posso recorrer quando o feijão
queimar? O sal do arroz ultrapassou aos limites do paladar? Ou mesmo tostar
àquele bife que seria malpassado? Ele vai logo ao dono do restaurante. Dessa
forma perde sua credibilidade, irrita aos clientes do restaurante, pois não
solucionou ao problema; além disso a todo momento recorre a interferência do
dono que não é um cozinheiro. Será que os papéis estão invertidos? Onde está o
erro? Na falta de amor? Está inserido numa série de fatores e o principal deles
é realizar o seu trabalho com criatividade, estar disposto à pesquisa, realizar
amizades e, principalmente, estar disposto a sentir o olfato dos humanos, a
perceber o que as pessoas desejam, o que anseiam, não ter preguiça de buscar o
novo e se esforçar a cada dia, pois um é diferente do outro.
Já
tive cozinheiros excelentes, mas hoje aguardo aquele que alimente a alma dos
meus clientes.
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