Lembro-me das quatro estações
definidas de maneira acentuada, pautada, apresentando através do seu poder
natural começo, meio e fim.
As
flores ocupavam ao jardim florido da praça da Matriz, os ipês se diferenciavam-se:
o amarelo, o rosa, o roxo, enfim, um mar de cores, uma mistura de cheiros,
tamanha felicidade que parecia não ter fim. O verão provocava aos corpos, era
um momento de exibição. Apenas os nomeados como esculturais? Que nada, o corpo
era absorvido como um elemento de atração, havia as diferenças sim, porém... O
Sol era imponente, logo pela manhã os seus raios eram soberanos, vitais a nossa
energia. Despertávamos com este elemento maior batendo em nossas janelas,
quando ele insistia em nos deixar lá estávamos observando ao crepúsculo, num
pôr-do-sol exuberante. Suávamos as bicas, mas mesmo assim o apreciávamos, era a
estação das paixões, das conquistas, do começar um namoro, quantos casamentos
não nasceram num Verão?! As caminhadas feitas a longos e decisivos passos eram
sinônimo para sair de casa, pois o calor intenso era empecilho. As sorveterias
cheias, as cadeiras nas calçadas e as famílias a conversar. Quantos conselhos
dados, quantas idéias absorvidas nestes papos dados nas cadeiras nas calçadas?!
Será que a tecnologia nos faltava? Não sentia... Hora da cerveja gelada, do
encontro com os amigos e troca de experiências de mais um livro lido, quanto
sabor... Ele se despedia com as suas pautadas águas intensas no mês de março,
versado e cantado por Tom Jobim e lá vinham às destruições, os coletivos de
raios e trovões... Ausências de luz falta de energia elétrica, chuveiros
queimados, trocaria mais um fusível. O outono chegava com sua secura, sem pedir
passagem, os ipês não os via mais, nem mesmo aquelas flores belas dos jardins
bem cuidados tinha mais. Será que não o cuidamos? Mas foi o Outono, que
enquanto não viu a última pétala caída não desistiu, insistiu que tanto fez,
mas ele não passava de um coadjuvante, pois estava para chegar um carrasco,
aquele que nos prendia sem piedade, matava moradores de rua, alimentava a
distância, eis que chegava o Inverno e o período das queimadas no interior de
São Paulo, a secura de mais um Inverno que com suas temperaturas baixas nos
fazia acomodarmos, fecharmos as caras e só esperar pela sopa quente de feijão.
Aos domingos eis que chegava a feijoada e lá estava toda a família reunida.
Quem disse que o Inverno não agrega? Porém não era ele e sim o almoço que
deveria ter por princípios a reunião, unir-nos novamente, famílias compostas,
filhos distantes que ali chegavam, parentes que desembarcavam, quantos primos
não conheci assim... Quando a temperatura atingia os 20°C lá estávamos nós
vasculhando ao guarda-roupas para encontrar aquele grosso casaco que não
tínhamos, o jeito era improvisar, duas ou três blusas e pronto, ainda estava
com frio. Mas ele passava, assim como a fuligem da cana-de-açúcar que tanto nos
incomodava. No distante horizonte a serra que pegava fogo através da capacidade
hostil dos grandes produtores canavieiros em acabar com a mata para plantar
mais cana. Chamas altas, o ar seco envenenado pelo dinheiro açucareiro,
hospitais lotados...
Hoje
as estações parecem não se definirem mais, não vejo mais os beija-flores, o
bem-te-vi, a mangueira que se enchia e abundava toda sua produção. Lambuzar-se
com a amora, escorregar a boca pela laranja, tomar o suco do limão, não dá
mais. O tempo passa e com ele não sentimos mais este prazer, não paramos mais
para apreciá-lo, parece que não mais
carecemos destes momentos, mas sinto que sim, éramos seres humanos mais
alegres, mais felizes, convivíamos de maneira pacífica, nos tratávamos como
gente. Parece que fomos absorvidos pela ausência da troca de olhares, da falta
de observação, dos caminhos trocados, dos odores misturados, do paladar
desajeitado e uma vida que não é vivida.
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