Escrever dói. Escrever
machuca. Escrever corrói. Escrever incomoda. Escrever não é inspiração como
bradam os românticos, há que transpirar para ver nascer seu texto. Há que
entender de parto. Tem que estar preparado para dor, e aqui não há pausa para
anestesia, a dor é inevitável. Dói para poder nascer! Gememos, transpiramos, saímos
sufocados, quase sem ar, mas é a passagem. Faz parte do ritual. É o destino.
Está escrito nos manuais canônicos da arte de escrever. Despertará para o mundo
mais algumas laudas, algumas páginas, novos vocábulos, talvez uma nova
tendência literária, mas este não deixará de ser um texto. Com as mesmas
nuances apresentadas pelos tecidos anteriores, porém os ares são novos, contêm
as características do pai, apenas do pai. Na escrita não há intervalos para o
ato de compartilhar, sentir-se entrelaçado a outro corpo e deste encontro
produzir o seu texto, gerá-lo...
Este é um prazer solitário, é um gozar individual, é um
esforço desmedido. Quantas vezes nos sentamos e paramos para a nossa mais bela
criação e eis que ela não dá sinais. Perdemos a nossa potência, abandonamos a
nossa virilidade, tornamo-nos indefesos, impraticáveis para a gestação de mais
uma obra.
Almejamos ao silêncio, porém o dia não nos permite,
sentamos à noite, mas as sirenes insistem em levar mais uma vida... Eis que
chega a madrugada, dotada do seu sossego, farta de alguns sussurros e de mais
alguns goles. Calam-se as bocas vizinhas, dormem os cansados, insistem os
festeiros, porém todos necessitam dormir. Nós estamos ali. Nós porque
compartilho do mesmo esforço de alguns colegas, que por essas mesmas veredas
passam, espinham-se, ferem-se, enfraquecem-se, procuram ajuda...
Escrever não é como brincar, podemos sim nos relacionar
com as palavras, porém aqui neste campo, nestas trincheiras não há espaço para
temperos pueris, docilidades infantis, insegurança adolescente, querer fazer
juvenil. Precisamos de experiência, não há momentos para a imaturidade, pois
nesta guerra podemos ser atingidos. E lá com a nossa falência, com a nossa
falta já não há mais texto. Chegam estes que aí se expõem, ganham as livrarias,
dão dicas, todavia não passam por estas provas, a certeza de que o texto foi
lapidado, o filho fora concebido, dotados de cuidado e amor.
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