Sou a favor daqueles que
depositam no papel suas ideias estabelecidas, formuladas, organizadas. Nada de
colocar na folha em branco palavras desconexas, frases que esperam para serem
rimadas, conversas sem objetivo e depois dizer que tudo não passava de Concretismo, Dadaísmo ou qualquer ismo que
os acadêmicos deliberem como importante para a nossa Literatura.
Lembro-me da tão importante
crônica de Rubem Braga (nosso maior cronista), Meu ideal seria escrever, e seu lirismo em descrever as nuances da
escrita. Mesmo ao longo de alguns anos orientando alunos, concurseiros e
vestibulandos na luta pela busca do texto perfeito, não me considero dono de um
bom texto, faço o que é preciso, ou seja, leio muito, às vezes em demasia (o
que não é nada mal), porém tenho sim que mostrar aos meus pares que tudo aquilo
que passo através de regras e teorias estão inseridos no meu texto. Certa vez
li que 90% dos professores de Redação não
escrevem bem, tentam, outros menos, mas os seus textos não chegam a serem
medianos. Pois bem, passar a teoria, demonstrar algumas regras etc. é fácil,
quero ver o cidadão provar ao seu aluno que ele, professor, é capaz de
confeccionar o seu texto ideal, como aquele que o Braga tentou e dizia nunca ter concluído-o.
A escrita, mesmo os nossos mais
respeitados cronistas, parecem adormecer nesse marasmo, que pegou a todos (ou
apenas eles?). Sou fã do Fabrício Carpinejar, da Martha Medeiros, da Lya Luft,
mas não dá, parece que os caras resolveram montar um consultório amoroso nas
suas crônicas. Ocupam páginas para realizar aquilo que a autoajuda vem fazendo.
Lembro-me do Fabrício e seus casos no jornal Zero Hora, mas depois que se tornou consultor amoroso do programa
da Fátima Bernardes parece que o mingau
desandou, ou seja, não consigo mais lê-lo; da mesma forma acontece com a
Medeiros, que teve um de seus livros Globalizado
(vide Rede Globo de Televisão) e nunca mais assumiu o seu fiel papel de
cronista.
Passamos por profundas e irreparáveis
perdas (e ganhos, vide Lya Luft), porém o cronista deve sair dessa mesmice,
aproveitada pelo lucrativo mercado da autoajuda, e passar a se dedicar mais aos
assuntos menos tocados, escondidos, trancafiados. O cronista deve sim
acompanhar o tempo, porém não se especializar num determinado tipo de assunto.
O Sclyar escrevia sobre tudo, o Cony continua com sua veia política, mas ainda
permanece como um fiel escudeiro deste gênero. O Loyola, o filho do Mário Prata,
o Hatoum, ainda impõem a robustez que a crônica merece.
O que diriam nossos renomados e
falecidos cronistas: Drummond, Vinicius, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, João
do Rio, Fernando Sabino, Caio Fernando Abreu, Armando Nogueira? Monstros
sagrados deste gênero tipicamente nacional, dono de textos que encantaram e
encantam gerações, construções que passeiam pelos salões pelo seu lirismo, sua
poesia, maestria de Gênios que
realmente tratavam-na como um elemento simples, porém carregado de magia e a nostalgia
que ela ainda merece.
Ao escrever, pare, reflita, e
tente demonstrar o seu melhor e se não der, procure rasgar ou apagar como fazem
os digitadores, pois quem ganha são os seus leitores. Não se satisfaça, pense,
pense naqueles que o lê.

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